29/11/2010

Liderança Eficaz na Igreja

 Como atingir tal padrão de liderança? Não há atalhos!




Por: Ebenézer Bittencourt


Certa ocasião conversei com um rabino em Porto Alegre e ele me disse que o sucesso, de acordo com a perspectiva rabínica, está firmado em um tripé: a inteligência, uma qualidade natural, o conhecimento, o conteúdo que adquirimos e a sabedoria, a habilidade de colocar o conhecimento na prática. Disse Salomão: “Com sabedoria se edifica a casa, com inteligência ela se firma; pelo conhecimento se encherão suas câmaras de toda sorte de riquezas” (Pv 24:3, 4).

Imagine que você tenha um problema tão sério que exige a ação de um advogado experiente. Você conhece o João Lúcio, membro da sua igreja, consagrado, um jovem recém formado em Direito que acabou de passar no exame da OAB. Ele é inteligente e certamente tem conhecimento. Mas você não deseja entregar a sua causa nas mãos dele. Por que? Porque você sabe que, devido a sua pouca experiência, falta-lhe a sabedoria para enfrentar um caso tão difícil. O mesmo pode ser dito a respeito de médicos, arquitetos, educadores e, logicamente, a respeito de pastores e líderes na igreja.

Como alguém pode aprender a sabedoria da boa liderança? Como pode ir além da teoria e adquirir eficácia na liderança? Como desenvolver as habilidades de gestão de pessoas, de recursos e de projetos? Como liderar com sabedoria o povo que o próprio Deus colocou sob seus cuidados? Como ser um líder sábio e eficaz?

O desafio é enorme e é impossível aprender tudo somente nos livros. Há um ditado chinês (todos os ditados que não sabemos de onde vêm são chineses) que diz o seguinte: “Existem três maneiras de aprender: pela reflexão, a maneira mais nobre; pela imitação, a maneira mais fácil; e pela experiência, a maneira mais dolorosa”. Eu sou totalmente a favor do estudo e dos livros, mas preciso reconhecer que as lições mais preciosas, aquelas que nos marcam para sempre, são aprendidas durante a luta e não na academia.

Em uma de suas palestras, ouvi pastor Bill Hybles dando alguns segredos sobre como desenvolver suas habilidades de liderança. Ele diz: (a) Leia tudo o que puder sobre liderança; (b) Participe de todos os encontros, workshops, palestras e cursos sobre liderança que puder; e (c) Lidere alguma coisa. Eu acredito que sem esta última, não podemos crescer.

Infelizmente, precisamos reconhecer que, ao praticarmos a liderança, nós cometemos tantos erros, enfrentamos tantos problemas e sofremos tanto embaraços e humilhações que acabamos trilhando o caminho doloroso da aprendizagem via experiência. Desta forma Deus, em sua graça, nos mantém em Sua escola de liderança através do sofrimento. E o mais interessante é o seguinte: se aprendermos verdadeiramente, daqui a alguns anos, alguém nos chamará de sábios. Na verdade, seremos sempre apenas discípulos que trilham constantemente o caminho da busca da sabedoria.

Se vamos liderar de forma correta, precisamos ter uma definição mínima como ponto de partida. Dr. John Edmund Haggai, fundador do Instituto Haggai Internacional, usa a seguinte definição: “Liderança é o esforço consciente de exercer uma influência especial dentro de um grupo, no sentido de levá-lo a atingir metas de benefício permanente que supram as necessidades reais do grupo”. Veja as ênfases que ele sugere.

1. A frase esforço consciente mostra que liderar não é algo que fazemos por acaso, sem gasto de energia focada. A liderança é exercida de propósito. O líder levanta pela manhã e sabe que vai liderar, pois é isto mesmo que ele conscientemente se propõe a fazer. A Bíblia diz que se alguém “almeja o episcopado (liderança de supervisão), excelente obra almeja” (1 Tm 3:1). Ou seja, qualquer pessoa pode desejar fazer o esforço consciente de ser um líder. Deus aprova este esforço.

Creio que neste contexto há dois erros que podem ser observados em uma igreja local. Por um lado, há os que exercem este esforço consciente de tal forma que chegam a ser atos de subversão. Devemos nos lembrar que a autoridade externa de um líder lhe é conferida pela organização. Na igreja local ele é pastor, obreiro, missionário ou líder de ministério porque aquela posição lhe foi designada. Houve um momento solene de imposição de mãos ou designação da função. Sem autenticação, um esforço de liderança pode ser um ato de rebeldia.

Por outro lado, e muito mais comum que o primeiro erro, há tantos que apenas se oferecem para ajudar, mas não para liderar. Creio que há milhares de ministérios não desenvolvidos de forma eficaz no Corpo de Cristo porque pessoas com potencial enorme não se dispõem, não desejam fazer o esforço consciente para liderar. Deus procura pessoas que almejam exercer liderança.

2. A frase exercer uma influência especial dentro de um grupo mostra que a influência de um líder não é simplória, aleatória ou ineficiente. Não, sua liderança é especial, propositiva e eficiente. Ele deseja levar sua equipe ou comunidade a experimentar novas conquistas, novos estágios de desenvolvimento constante rumo a uma visão. Por isso, um líder sabe que ao entrar em um local, ou ao participar de uma reunião, ele terá um papel importante no processo de decisões. Ele não precisa ser dono da verdade, nem saber todas as soluções, mas ele definitivamente exercerá sua influência para ajudar o grupo no caminho da sabedoria.

No entanto, influência depende de algo que não está sob o controle do líder – a confiança dos liderados. Confiança é um ingrediente essencial, a base de qualquer influência. Ninguém segue um líder em quem não confia; apenas obedece ao chefe por respeito à hierarquia. Se seus liderados não confiam em você, você pode ser o chefe, mas não é um líder. É por isso que o apóstolo Paulo enfatiza a lista de qualidades do caráter do líder em 1 Timóteo 3. Quando alguém é digno de confiança, ele poderá exercer sua influência especial, já que os liderados confiam nele e estão abertos para receberem sua influência. Quando há desconfiança o processo de liderança é abortado.

Daniel, profeta e também funcionário da administração pública, demonstrou este princípio de forma deslumbrante. No exercício de suas funções digamos “seculares”, seu caráter digno e seu compromisso com a excelência (Dn 6:1-4) fez com que ele recebesse uma plataforma cada vez mais elevada para exercer sua influência especial, chegando a ser o segundo homem do governo de Dario.

3. A busca de metas de benefício permanente mostra a eficiência do grupo sob a influência do líder. Um líder é alguém que tem bem claro em sua mente o que deseja fazer e onde deseja chegar. Ele é um visionário. Ele tem seus objetivos traçados. “Se o piloto não sabe para onde vai, todos os ventos lhe serão contrários” disse Sêneca. Por isso, ele ajuda sua equipe a estabelecer metas, treina seus liderados e libera-os para exercer suas funções.

Eu creio firmemente que metas claras estabelecidas pelo próprio grupo constituem um dos fatores mais motivadores para o trabalho. A autocracia do líder até pode aumentar a produtividade por um tempo, mas ela gera submissão burra. Resultados excepcionais surgem da delegação de responsabilidade somada à delegação de autoridade, do treinamento acompanhado de liberdade de ação. Um líder ineficiente é uma afronta à inteligência dos seguidores e uma desonra ao caráter da missão.

Na busca do alcance de metas, o líder deve ser hábil em resolver problemas e perseverar até o fim apesar das dificuldades. Problemas surgem em todos os projetos e em todas as relações humanas. O líder saberá gerenciar finanças, resolver conflitos e correr riscos para perseverar na busca das metas e da visão.

4. Por fim, Dr. John Haggai afirma que a busca de metas de benefício permanente deve suprir as necessidades reais do grupo. Este é o lado humano do processo de liderança. Toda visão deveria nascer da compaixão pelas pessoas diante de suas necessidades. Jesus Cristo teve compaixão do povo, pois eram como ovelhas sem pastor – mas veja bem – eles tinham pastores. Os sacerdotes, os escribas, os líderes, não estavam suprindo suas necessidades. Muitos líderes têm visões para construções faraônicas ou projetos mirabolantes, mas a pergunta que todo líder precisa responder é a seguinte: “este projeto vai suprir alguma necessidade do povo?”.

Um líder pode chegar ao ponto de abusar de sua influência, pedindo sacrifícios demais do povo em nome de uma visão. É por isso que Jesus Cristo disse que o líder deveria ser um servo. Ele coloca a pessoa humana no centro. Em Atos 20, o apóstolo Paulo, ao falar aos presbíteros de Éfeso, mostra-lhes que o líder deve zelar pela saúde do grupo (v.20, 28, 36), defendendo-o contra os inimigos de fora (v.29) e de dentro (v.30), motivando a todos para o trabalho (v. 31, 32, 35) e suprindo suas necessidades (v.33,34).

Como atingir tal padrão de liderança? Não há atalhos. A sabedoria vem pela prática baseada no conhecimento e no exercício da inteligência com bom senso. O discípulo de Jesus Cristo que se mantém na escola da aprendizagem cristã, ungido pelo Espírito Santo, e firmado nas Escrituras, já sai na frente, pois o caminho da liderança eficaz na igreja ou no mercado de trabalho começa pela busca da sabedoria, a qual Deus dá com liberalidade a todos que a buscarem humildemente, de todo coração.


Que Deus nos abençoe nesta jornada.


Fonte: Creio.com.br, publicação Cristão Sim Alienado Não

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