04/01/2011

A cobiça do poder



Existe uma categoria existencial que afeta todos, Deus, anjos e humanos: o poder. Poder é quase que uma entidade autônoma do universo – não se preocupe, ainda não sucumbi ao dualismo.

Aqueles que experimentaram poder, sabem de sua capacidade de agarrar-se a nós como os vermes que roem os corpos dos pássaros, e não os largam nem depois de mortos.

O poder controla os atos de qualquer um, sem deixar que se perceba como seus fios fazem as pessoas dançarem como marionetes, no palco do absurdo. A conquista do poder embriaga o vassalo e o rei, a cortesã e o cardeal, o general e o catador de lixo. Como regulador das relações humanas, poder encanta como uma serpente faminta.

O poder promete dar opção, controle sobre as decisões. Ele diz que os fortes fazem sua vontade prevalecer. Os poderosos acreditam viver sem temores, eles acham que não caminharão pela vida como o cervo que passeia pela relva, sempre amedrontado com o vento que traz o cheiro do tigre que lhe espreita.

Com o poder vem a promessa de autonomia. O mais capaz não teria carências, mas desdenha dos que vivem das migalhas que sobram de sua mesa. Ele sente que domina, e não conhece timidez; ninguém tem direitos sobre sua vida, já que não deixa que lhe coloquem cabrestos.

Em todo universo apenas um tem todo poder: Deus. Os anjos e suas hostes, os humanos e seus descendentes imaginam como seria fantástico se um dia pudessem se tornar deuses, onipotentes.

Essa é marcha dos vivos. Todos querem, de qualquer maneira, conquistar, ganhar, herdar a capacidade de serem iguais a Deus. Invejamos a sorte d’Ele, que não tem a quem prestar contas. Seríamos felizes, nos convencemos, se pudéssemos agir, e controlar todas as variáveis.

Vamos à igreja, acumulamos riquezas, narcotizamos nossa mente, organizamos instituições, atropelamos outras pessoas querendo, pelo menos sentir que dominamos algo ou alguém.

A religião promete a possibilidade de se retirar os percalços da vida, dominar as doenças e nunca enfrentar tribulações. Cultuamos a Deus, porque no fundo, no fundo, invejamos sua sorte de viver sem acidentes. Queremos ficar perto dele para, quem sabe, podermos nos tornar mestres do grande xadrez existencial, conhecendo todas as possíveis jogadas; sem jamais sermos surpreendidos por algum lance inédito.

Acontece que o Deus bíblico, revelado em Jesus de Nazaré, tendo todo o poder, jamais foi sequer tentado por ele. O mais interessante é que anjos cobiçaram poder e se tornaram em demônios; homens correram atrás do poder e se tornaram pecadores; e Deus revelou través de Jesus que nunca desejou relacionar-se ou governar seu universo valendo-se dessa categoria.

A mensagem é nítida: se cobiçamos ser iguais a Deus, devemos abrir mão do poder, como fez Jesus Cristo. Se queremos relacionamentos verdadeiros, temos que escolher a senda do Calvário; levar as cargas do próximo, perdoar e amar incondicionalmente.

Soli Deo Gloria.


Texto: Ricardo Gondim pastor da Assembléia de Deus Betesda

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